
O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, marca a luta pelo direito das mulheres e pela equidade dos gêneros. Atualmente, embora a população feminina constitua maioria na sociedade, com 51,1%, a proporção não se repete nas áreas de tecnologia, inovação e desenvolvimento.
Ainda que 44% da força de trabalho brasileira seja fornecida por mulheres, somente 3 a cada 10 estão em ocupações em ciência, tecnologia, matemática e engenharia no Brasil, segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
A participação de mulheres neste setor, no entanto, cresceu 60% em cinco anos. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam um salto de 27,9 mil para 44,5 mil em 2020. E o futuro é favorável. Com a evolução da tecnologia e dos processos, cada vez mais profissionais com estas habilidades serão necessários. O Brasil precisará qualificar quase 10 milhões de trabalhadores na indústria até 2023, aponta a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em destaque, pesquisadores de engenharia e tecnologia (aumento de 17,9%).
Ao longo da história, diversas mulheres contribuíram para a criação e evolução da programação. Os estudos de Ada Lovelace e Grace Hopper — em um tempo onde não se previa a evolução experimentada na sociedade atual — foram imprescindíveis para formular a base do que hoje conhecemos. Em especial ao Dia Internacional das Mulheres, a Weesu bateu um papo com duas mulheres da área de tecnologia e desenvolvimento, ressaltando a participação e contribuição de cada uma em seu ciclo social. Confira:

Amanda Soares de Araújo trabalha na Faber-Castell e atua de forma híbrida entre as áreas de tecnologia e negócio, com foco em suporte e melhorias contínuas. (Foto: arquivo pessoal)
Como foi seu processo até entrar nesta área de tecnologia?
Amanda: Me formei na área de Recursos Humanos e supostamente deveria estagiar na área, no entanto, já no início do estágio, fui designada para acompanhar a implantação de um novo sistema de administração de pessoal.
Durante o processo de implantação, fiquei como usuária chave e para que a implantação ocorresse, o consultor me designava atividades como importação de registros, consultas no banco, análises e validações. Com a execução destas tarefas fui adquirindo conhecimento técnico.
Este processo me desafiou e aos poucos fui ganhando confiança, conciliada com a autonomia que me foi dada e combinado com a minha formação em RH, essa oportunidade me modelou para um conhecimento híbrido e fui me desenhando como ponto focal para apoio e gestão deste sistema. Terminada a implantação, que durou mais ou menos 6 meses, passei a executar as atividades da minha área de formação, mas estas novas atividades já não me desafiavam, então comecei a me questionar se eu realmente seguiria pelo caminho operacional.
Paralelo a este questionamento, recebi um convite do consultor do projeto, para atuar como consultora de RH. Para mim, esta era uma mudança significativa em minha carreira, mas vi como uma oportunidade única, aceitei a proposta e iniciei minha carreira em TI.
E por que tecnologia?
Amanda: O que me motivou a embarcar na área de tecnologia, foi realmente o desafio e o aprendizado contínuo, a chance de poder vivenciar algo novo todos os dias, de não ficar somente na zona de conforto. Essa sensação de estar a frente de um processo, ter o conhecimento sistêmico embarcado e poder atuar como ponto focal, foi o que me fez optar pela tecnologia e não pela área inicialmente escolhida.
Como foi o processo de transição (de RH para análise)?
Amanda: A transição foi bastante complexa, pois num espaço curto de tempo, tive que adquirir um volume alto de conhecimento, que me permitisse executar minha nova função. Antes eu era uma usuária chave que apoiava demais colegas em um segmento específico, ao qual eu me habituei. Depois, ao assumir a função de consultora, eu precisava entender os “bastidores” do sistema, as engrenagens que combinadas de forma correta, levavam ao resultado esperado pelo cliente.
Eu sempre atendia um cliente diferente, de segmento diferente, com uma realidade toda nova para mim e precisava entender todo o fluxo do sistema, para poder adequá-lo a cada necessidade e esse era e é o maior desafio até hoje.
Na sua rotina, você percebe um ambiente predominantemente masculino?
Amanda: Sim, em meu percurso na área de tecnologia, desde o momento que fui convidada a área de consultoria, já se passaram 15 anos e posso dizer que foram poucas as mulheres que encontrei no caminho. Gostaria que esse número fosse muito maior. É até irônico que haja tão poucas mulheres engajadas nessa área, visto que nossa querida Ada Lovelace deu o pontapé inicial, mas não consigo explicar, essa “apropriação” pelo gênero masculino.
Você enfrentou dificuldades para conseguir emprego?
Amanda: Na transição para consultoria fui convidada, então foi difícil somente a minha adaptação, pois minha realidade mudou de ir para o mesmo ambiente todos os dias e executar atividades pré-definidas para visitar um cliente diferente a cada implantação ou suporte e me deparar com tarefas nada programadas, visto que são muitas variáveis a se considerar.
Mas no atendimento aos clientes, senti sim uma certa barreira por ser uma mulher ao atendê-los, senti resistência junto aos departamentos de TI dos clientes, pois era visível que eles não me consideravam capaz de atuar em determinada atividade. Digo sempre para o meu marido que preciso provar duas vezes que sou capaz de executar minhas atribuições, que tenho sim as competências necessárias.
Também senti dificuldades em mudança de emprego ao entrar em uma área técnica onde todos da equipe eram homens e apenas eu mulher, demorou um pouco para se ajustarem a essa realidade, houve resistência de alguns.
E atuando, quais são os desafios?
Amanda: O desafio de atuar em TI sendo mulher, é uma constante adaptação da nossa cultura social como um todo. Busco por um equilíbrio e não por superioridade. Durante minha trajetória, fui a protagonista da minha história por gostar de superar desafios complexos, esta é minha maior recompensa. Esta arte de conseguir conectar “coisas” e “pessoas” por meio de tecnologias me faz sentir realizada.
Você recomenda esta área para outras mulheres?
Amanda: Certamente eu recomendaria, inclusive se tivesse a oportunidade de decidir novamente se queria entrar nessa área, minha escolha seria a mesma. O universo feminino sofre sim dificuldades, existe um pré-conceito, mas isso não pode ser considerado como fator decisivo ou de exclusão. Para mim, o ganho em conhecimento, experiência com novas situações todos os dias, pensamento lógico, tempo despendido em análises para identificar soluções de problemas, faz tudo valer a pena.
Atualmente minha função está muito mais voltada a melhorias, avaliar rotinas e conseguir de forma prática e objetiva, chegar num resultado que agregue valor e sinto que meu esforço foi recompensado, quando consigo fazer essas entregas.
Então meu conselho para as “meninas”, entrem nessa área que é uma montanha russa diária, vocês vão se sentir muito mais fortalecidas por estar numa área que está a frente das mudanças, que é pura inovação. A revolução tecnológica chegou e tenho certeza de que as mulheres podem e devem enriquecer o mundo de TI.

Leide Rachel Chiusi Rapeli é analista de sistemas da Faber-Castell. (Foto: arquivo pessoal)
Como foi seu processo até entrar nesta área de tecnologia e inovação? Sinta-se à vontade para compartilhar vivências desde a faculdade
Rachel: Relembrando agora… Sempre fui interessada em mecanismos que “trabalhassem por nós”. Programei muito o videocassete de casa para gravar filmes que começavam muito tarde da noite, para poder assistir depois; o microondas também, para termos arroz fresquinho quando saía com minha mãe…rsrs
Fiz cursos de computação básica ao mesmo tempo que cursava o 2º grau e também já comecei a programar em VB nessa época. Na universidade eu não era “o gênio” da turma, mas algumas matérias me fascinavam como construção de compiladores: dificílima, descia uma camada a mais sobre a lógica computacional, era o “ensinar o computador a trabalhar”, eu adorava!
E por que essa área? O que te motivou?
Rachel: Sinceramente, não me lembro se tive uma motivação, mas durante o 2º grau fui eliminando as áreas que não me interessavam. No final, fiquei entre Computação e Jornalismo, pois também adoro ler, escrever, línguas… Como na minha cidade há 2 excelentes universidades públicas que oferecem computação, optei por essa. Se quisesse mesmo o jornalismo, precisaria estudar em outra cidade.
Na sua rotina, você percebe um ambiente predominantemente masculino?
Rachel: Sim! É muito desproporcional a quantidade de mulheres. Na graduação éramos 10 mulheres e 50 homens. Por muito tempo, na empresa eu era a única mulher na equipe de TI, de 20 pessoas. E a discrepância não era apenas na área de TI. Como trabalhei na área de infraestrutura e suporte TI, atendia as gerências/diretorias em reuniões de alinhamento. Muitas vezes, quando entrava na sala da reunião para realizar alguma atividade de TI, o ambiente também era majoritariamente masculino.
Você enfrentou dificuldades para conseguir emprego?
Rachel: Como moro na “capital da tecnologia”, e no estado de SP (maior oferta de empregos), não tive dificuldades. Porém, como a quantidade desses profissionais é grande por aqui, os salários muitas vezes não são tão generosos.
E atuando, quais são os desafios?
Rachel: Acredito que manter-se atualizada é sempre um desafio, pois o estudo constante concorre com as outras faces de ser uma mulher como a maternidade, adm do lar, etc…
Você se inspira em alguém profissionalmente? Existe alguém que seja sua referência na área?
Rachel: Na minha área há inúmeros visionários, como o próprio Turing. É difícil ter apenas uma referência. Acredito que como a maioria das mulheres, acho fantástico o trabalho da Luiza Trajano.
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Você recomenda esta área para outras mulheres?
Rachel: Sim! Após mais de 20 anos atuando em TI, estou ainda mais interessada e apaixonada pela área. Tive a sorte de acompanhar o mundo antes da internet e após ela, assim valorizo demais as facilidades proporcionadas pela tecnologia.
Parabéns !! Gostei das entrevistas e me identifiquei, embora seja de outra área ( saúde ) onde há mais mulheres , porém sempre temos que nos posicionarmos